quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O que o Walter nos deixou?



Naturalistic é um termo que no Brasil já vem sendo discutido a um bom tempo. No evento da Nipon Bonsai o termo finalmente pode ser visto e estudado de perto, não com suposições ou interpretações, mas pelo próprio “inventor” do mesmo. Mr. Walter Pall esteve presente em nosso evento e tratou do tema de forma abrangente e profunda.
Alguns pontos abordados por ele:
Naturalistic não é um novo estilo, e sim um resgate de algo que estava se perdendo. Com o passar do tempo o bonsai tomou formas artísticas abstratas e plásticas. Não se trata mais de retratar a natureza e sim um ideal imaginário na mente do artista. Naturalistic é um contraponto, uma volta ás raízes.
Trabalhar bonsai nesta visão não é algo fácil, como muita vezes se imaginou. Trata-se de um trabalho que exige maestria e um profundo conhecimento artístico e estético, que precisa antes de tudo um conhecimento geral do que é um bonsai, tanto pelas escolas fundadoras como na sua filosofia.
O objetivo principal é criar um bonsai (árvore) que desperte sentimentos em seu observador. Cada ramo, cada galho quebrado, ou raiz nodosa deve comunicar um só sentimento, uma unidade. A árvore deve contar uma história, ou transportar o observador a lembranças de sua vida.
O trabalho não consiste em “ajeitar” de qualquer forma um emaranhado de galhos para formar uma copa. Muitas vezes, quando se fala deste estilo, tem se a impressão que é um jeito fácil de fazer bonsai. Basta apenas formar uma copa e pronto (isso seria um arbusto decorativo ou uma cerca-viva, ou uma topiaria). Outros imaginam que é um trabalho a ser feito em planta que não servem para outra coisa, como uma forma de aproveitamento de material. Pelo contrário: é um trabalho árduo e complexo, repleto de sentimento em que cada detalhe tem uma razão de ser e de estar ali.
As regras e diretrizes do bonsai clássico não são jogadas fora. Pelo contrário, são exploradas ao máximo. Mas elas deixam de modelar o bonsai e passam a modelar a visão do bonsaista. A própria planta diz o que eles quer ser, e o artista, com a ajuda das regras, interpreta da melhor forma possível o que a planta lhe fala.
Com tudo isso, cada planta será única, terá sua forma, sendo semelhantes e ao mesmo tempo distantes dos estilos clássicos, terá uma alma própria que será o reflexo da alma do seu criador.
Outro grande enfoque do bonsaista Walter Pall é que não é possível fazer bonsai em pouco tempo. O tempo é fundamental no desenvolvimento da árvore de forma natural. A idéia de que naturalistic seja uma forma de conseguir resultados rápidos e fáceis é um grande engano.
Fundamental é deixar o mínimo de marcas de ação humana. A ausência de marcas da interferência humana não significa não trabalhar a planta. Antes, é deixar ela desenvolver como se não tivesse a interferência humana, e isso somente o tempo é capaz de fazer.
Walter falou em nos centrarmos no que é fundamental: o espírito, a essência do bonsai. Não perdermos tempo tentando descobrir a melhor formula, o melhor método, o jeito mais rápido, etc.
Depois de tudo isso, encerramos com um churrasco onde o Walter nos contou um pouco de sua vida. Ele largou um emprego muito bem remunerado para se dedicar aquilo que ele ama fazer. Com todo tempo do mundo, sem pretensão alguma de se tornar mestre. As coisas foram acontecendo naturalmente.

Creio que é tempo de avaliarmos nossa forma de encarar o bonsai. Estamos sempre procurando formulas mágicas de fazer em 2 anos o que leva 5 anos. Isso nos desgasta, faz perder o enfoque e torna o bonsai algo cansativo e pouco prazeroso.
Além de todo o espírito competitivo que criamos ao tentarmos sempre ser os melhores. Bonsai definitivamente é muito mais do que isso.
Mais fotos:
Clique em Encontro Nipon Bonsai
Loguin: nipon
senha: bonsai
** foto de Vanderlei

7 comentários:

Anônimo disse...

Lembrando que o Walter insistiu que ele não estava trazendo a visão correta, ou a única visão, e sim, mais uma forma de ver bonsai.
Ele falou para não abandonarmos o que já sabemos... apenas construir, acrescentar.

Sergivaldo disse...

Grande Valdir!!

Meus parabéns pelo grandioso evento realizado por vocês e pelas palavras tradutoras do legado do Walter Pall.

Achei por demais oportuna sua explicação e torço para que chegue, de forma bastante clara (como está), aos olhos e ouvidos de todos aqueles sedentos por uma luz naturalística.

"O objetivo principal é criar um bonsai (árvore) que desperte sentimentos em seu observador. Cada ramo, cada galho quebrado, ou raiz nodosa deve comunicar um só sentimento, uma unidade. A árvore deve contar uma história, ou transportar o observador a lembranças de sua vida.

O texto acima sintetiza muito bem o real objetivo do bonsai, enquanto arte, independente da corrente que escolhermos para seguir.

Grande abraço!!

Anônimo disse...

Olá Valdir!

Lembro que essa questão gerou grade discussão no fórum do Atelier um tempo atrás... inclusive por conta dessa discussão resolvi me afastar do mesmo.
Porém,vendo as explicações do próprio Walter Pall nos sendo trazidas por você, fico realmente muito satisfeito e torço para que essa arte cosiga evoluir da forma correta.
Abraços!

Juliano Bolognini

V. Hobus disse...

É, lembro do episódio...
Mas nada como ouvir o próprio autor, para evitar interpretações e especulações.

V. Hobus disse...

Blog do Walter Pall com fotos do evento no Brasil e na Argentina:
http://walter-pall-travelogues.blogspot.com/2008_11_01_archive.html

Anônimo disse...

Nesse evento do Walter, percebi que ele, com 64 anos, ainda pensa e estuda suas plantas para 15, 20 anos de trabalho. Acho que esse é o grande "defeito" da maioria dos que querem tornar-se bonsaistas: quererem uma planta perfeita com o minimo de tempo, culpa desse mundo onde tudo tem que ser pra ontem??!! Quem sabe.. mas o bonsai além de tudo que está muito bem escrito pelo Valdir é muito mais qe lindas plantas, é um exercicio de humildade, paciência e amor por você mesmo e depois pela natureza.
O resultado dessa mistura muito bem equilibrada é ter quem sabe um dia plantas campeãs, mas que pra mim, deve ser a ultima coisa que um bonsaista deve querer.

Abraços

Unknown disse...

Grande Valdir.

Em primeiro lugar obrigado pelo seu trabalho de tradutor.

Seus comentários aqui estão muito bem feitos. Representa o que pude assitir com o exposto e trabalhado pelo W. Pall.

Foi muito bom ouvir opinião com um enfoque diferrente. A cada apresentação deste tipo, temos que parar, olhar nossos trabalhos, nosso pensamento e remodela-lo.

As minhas plantas tem algumas que me desanimaram (pre-bonsai) e acho que vou fazer uma doação.
Porem o que vou trabalhar doravante, com certeza será melhor.

Obrigado pelo texto